The Forbidden Room, de Guy Maddin e Evan Johnson
.:: 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo ::.
Guy Maddin sempre deixou claro o seu interesse por abstrações, pela criação de alegorias imprecisas e pela total falta de comprometimento em se encaixar em um gênero. É recomendável que o espectador esteja ciente dessas regras (ou falta delas?) no cinema do diretor canadense, que em “O Quarto Proibido” nos convida a embarcar na viagem surreal mais longa que já produziu.
São mais de duas horas de metragem e Guy Maddin ainda convoca o seu ex-aluno Evan Johnson como co-diretor. Se é possível definir algum fio condutor em ‘O Quarto Proibido”, a princípio somos capazes de identificar três: a narração didática de um idoso (Louis Negin) sobre banhos, a jornada de um herói (Roy Dupuis) que explora uma caverna cuja única figura feminina se torna fugitiva amnésica e, por fim, a tripulação de um submarino que luta pela sobrevivência ao constatar que tem somente algumas horas de oxigênio.
É difícil avançar com a sinopse, pois são inúmeras as intervenções que pouco ou nada contribuem para o curso das premissas em destaque. O desprendimento possibilita a Guy Maddin entregar algumas depravações certeiras na intenção de provocar risadas, como a de um paciente que tem taras por traseiros ou de um canalha que forja um bigode para o seu filho pequeno para que a sua esposa cega (interpretada por Maria de Medeiros) não note a sua ausência.
O cineasta é também notório pelo experimentalismo visual que impõe em suas obras. “O Quarto Proibido” parece ter sido rodado em Super 8 e cada sequência demanda um filtro de cor distinto. Possivelmente, é a primeira realização que se tem conhecimento de introduzir os créditos do elenco não somente no prólogo ou na conclusão, mas também no período em que cada um faz a sua aparição na tela – os veteranos Mathieu Amalric, Geraldine Chaplin, Charlotte Rampling e Udo Kier são alguns que dão o ar da graça.
Ao contrário de seus filmes menores, a exemplo de “Keyhole“, “O Quarto Proibido” não traz uma sensação de amadorismo, pois aqui há uma imersão em escolhas estéticas que o aproximam da atmosfera dos sonhos. É um deslumbramento que se esvai, provocando um desconforto que renderá muitas desistências durante a sessão. Talvez tivesse maior valia caso fosse mais compacto.