quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Aqui é o Meu Lugar (This Must Be The Place)

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Sean Penn parece estar sempre em busca de uma eclética e extensa lista de personagens interpretados. Ele já foi um doente mental em "Uma Lição de Amor", já encarnou o perturbado Samuel J. Bicke em "O Assassinato de um Presidente", com o homossexual Harvey Mik ganhou o Oscar em "Milk – A Voz da Igualdade", já foi soldado, fugitivo e por aí vai. Só que mesmo diante desta vasta gama de personalidades, é certo afirmar que nenhuma delas é igual ao rockeiro Cheyenne, de "Aqui é o meu Lugar". 

A obra foi dirigida pelo italiano Paolo Sorrentino, que afirmou ter criado o personagem inspirado no cantor Robert Smith, da banda The Cure, sendo também seu nome uma referência a cantora Siouxsie, do Siouxsie and the Banshees. Visualmente, Cheyenne está idêntico a Smith, mas seu comportamento lembra bastante o vocalista lesado Ozzy Osbourne. Toda vagareza e rigidez corporal, a fala arrastada e sempre tranquila compõem o espírito do personagem. Um trabalho eficiente e apaixonado de Penn. 

A trama é simples, mas vem carregada de simbolismos. O rockeiro aposentado, apesar de não conseguir se desvincular daquilo que lhe fez um sucesso - ou seja, sua inocência, imaturidade e falta de noção (que lhe permite se vestir como um maluco todos os dias, por assim dizer) -, enfrenta problemas sérios, encarados pelo mesmo de maneira, as vezes mesquinha, outras vezes sábia, o que faz dele uma espécie de Buda excêntrico que abusou de muitas drogas e agora tenta acertar algumas importantes questões do passado. Para isso, nada melhor do que perseguir o nazista que humilhou seu pai no campo de concentração. Redenção em forma vingança, uma dádiva certamente inesperada que serve como mais um contraste deste homem incomum. 

Além da interpretação de Penn, a direção de Sorrentino também é destaque. Usando de um tom melancólico e contemplativo, seu andamento arrastado faz com que o humor ganhe ares diferenciados, não gratuitos. Um experiência interessante que une linguagens intercontinentais, temática e personagens criativos, ricos e cheios de possibilidades. Lembra em alguns momentos a verve de Wes Anderson.

O titulo original do filme, "This Must Be The Place", foi retirado da canção homônima presente no albúm "Speaking in Tongues", do Talking Heads. O ex-vocalista da banda, David Byrne, além de assinar a trilha sonora, faz uma participação na fita como ele mesmo. O elenco conta ainda com Frances McDormand - como a mulher/marido de Cheyenne, Jane -, Kerry Condon e Eve Hewson (filha de Bono, do U2). Engraçado, estranho e recomendado.



























Aqui é o Meu Lugar/ This Must Be The Place: Itália, França, Irlanda/ 2011/ 118 min/ Direção: Paolo Sorrentino/ Elenco: Sean Penn, Frances McDormand, Judd Hirsh, Eve Hewson, Kerry Condon, Harry Dean Stanton

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