sábado, 14 de novembro de 2015

Cidade das Sombras (Dark City)

por 

O Passado Não Existe, o Futuro é Agora!

Quando assisti Cidade das Sombras pela primeira vez, em 1998, me lembro de constatar na mesma hora que aquilo era algo inovador. Começando pela instigante história de John Murdoch (Rufus Sewell), um herói atípico, que sem lembrança alguma de seu passado, acorda em um lugar desconhecido e inóspito, onde as coisas não funcionam da forma que deveriam.

Com a ajuda do letárgico Dr. Daniel (Kiefer Sutherland), Murdoch se descobre preso em um mundo novo, repleto dos autodenominadosEstranhos, que aplicam infindáveis testes em busca da proliferação de sua raça. Mas Murdoch é a peça chave para a libertação desta cidade que há muito não vê a luz do sol. Como prêmio final: um possível recomeço, tendo ao seu lado a amável esposa Emma (Jennifer Connelly).

Outro fator que ficou impresso em minha memória foi o visual criado por Alex Proyas. O diretor por muito tempo foi um dos meu favoritos, com filmes como O CorvoDias de Ensaio e Eu, Robô (infelizmente ele tropeçou em um buraco enorme chamadoPresságio). Mas voltando ao visual, o trabalho realizado em Cidade das Sombras é realmente especial, com cenários memoráveis, imensos, uma produção impecável. E todo o resto é mais que eficiente: a trilha sonora do experiente Trevor Jones é parte importante no desenvolvimento do longa, o figurino criaria tendências claras, a fotografia também se tornaria referência pouco tempo depois.

Ao rever a obra, 14 anos depois, me surpreendi ao reparar a semelhança entre Cidade das Sombras e outro filme apontado como um divisor de águas do cinema: Matrix, de 1999. Todos sabem que o alicerce da história dos irmãos Wachowski (e até mesmo o visual de personagens importantes, como Morpheus) veio de mangás japoneses comoGhost in the Shell, mas se formos comparar a parte técnica e comportamental do filme, veremos que essas obras são idênticas. A fotografia é simplesmente a mesma, sempre puxando para tons frios esverdeados, o figurino é extremamente semelhante, assim como a personalidade desprovida de sentimentos dos vilões. A direção de arte também se iguala, mesmo porque a diretora de arte, Michelle McGahey, trabalhou nas duas obras. Em ambos os filmes temos um salvador, e parte dos efeitos visuais apontam para a mesma direção: elementos orgânicos que se parecem com feixes de ar (vulgo: bulett-time). Comparações à parte, os dois filmes possuem méritos óbvios e distintos, mas esta identidade praticamente duplicada é algo no mínimo prazeroso de se perceber.

Talvez o grande diferencial de Cidade das Sombras seja seu clima sombrio. A tensão é criada 
através da excelente ambientação da cidade, um local perdido no tempo, como o passado dos personagens. O período em que se desenrola a história não fica exatamente claro, e este é apenas um dos elementos que deixam todos perturbados diante de suas lembranças de outrora. O desfecho excepcional oferecido pelo roteiro não diminui a surrealidade da situação, e aceitação dos fatos não diminui o desconforto da realidade de Murdoch, mas mesmo assim ele segue.

No final, a produção é uma ficção científica carregada de suspense, envolta em um clima de investigação noir com elementos do universo cyberpunk, mas ao mesmo tempo steampunk (simples, não?). Uma loucura única. A criatividade do roteiro só é superada pela direção atenciosa de Proyas. Mesmo 14 anos depois, continua relevante como nunca.





Cidade das Sombras/ Dark CityAustráliaEUA/ 2011/ 100 min/ Direção: Alex Proyas/ Elenco: Rufus Sewell, William Hurt, Kiefer Sutherland, Jennifer Connely, Richard O'Brien, Melissa George

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