sexta-feira, 15 de abril de 2016

Resenha Crítica | O Escaravelho do Diabo (2016)

O Escaravelho do Diabo
O Escaravelho do Diabo, de Carlo Milani
por ALEX GONÇALVES
Muitos adultos tiveram a sua paixão pela literatura despertada com as leituras recomendadas no colégio da série Vaga-Lume. Era uma saída para os adolescentes desestimulados a ler, que então se viam em meio a títulos empurrados goela abaixo não condizentes com essa fase agitada de ensino. Ou os textos eram infantis demais (como as releituras de fábulas) ou complexos (como Machado de Assis).
Por meio da Editora Ática, vários escritores foram capazes de encontrar o equilíbrio entre o mistério adulto e a perspectiva infanto-juvenil, estimulando a imaginação sem abrir mão de temas pertinentes ao público-alvo. A mineira Lúcia Machado de Almeida foi a mais certeira nessa missão, sendo o seu “O Escaravelho do Diabo” o clássico mais popular da série Vaga-Lume.
Afeito a trabalhos televisivos, Carlo Milani sempre foi um fã confesso de “O Escaravelho do Diabo”. A devoção ao material o envolveu em uma peregrinação que durou 12 anos entre a decisão em adaptá-lo e as filmagens. Lançado em 1953 capítulos pela revista O Cruzeiro e em livro em 1972, “O Escaravelho do Diabo” exige modernização. Felizmente, ela acontece sem ferir o espírito da trama concebida por Lúcia.
Antes um protagonista adulto, Alberto (Thiago Rosseti) é agora uma criança e um alicerce ainda essencial para auxiliar o Inspetor Pimentel (Marcos Caruso) a desvendar a identidade do assassino que matou o seu irmão Hugo (Cirillo Luna). Mudaram-se também os contextos de alguns acontecimentos memoráveis do romance, como a morte da cantora lírica Maria Fernanda: no filme, temos uma cantora popular também eliminada por um dardo envenenado durante a gravação de um clipe musical.
Para quem verá “O Escaravelho do Diabo” sem o conhecimento de sua premissa, temos uma cidadezinha marcada pelo número expressivo de habitantes ruivos. Nela, passa a agir um assassino em série, cujas vítimas são justamente inocentes com a cabeleira cor de fogo, que tem a morte anunciada a partir do instante em que recebem uma espécie diferente de escaravelho. Alberto é quem associa o inseto ao autor dos crimes e o seu modus operandi. Além do luto por perder o irmão, que teve uma espada espanhola cravada em seu peito, Alberto precisa concentrar as suas atenções na segurança de sua amiga (e interesse romântico) Raquel (Bruna Cavalieri), ruiva e, consequentemente, uma vítima em potencial.
Se o filme peca pela falta de imaginação de uma ou outra passagem (como um sonho de Alberto com todos os pixels de uma fase de videogame) e por um clímax apressado, não falta respeito a todo esse espírito da série Vaga-Lume, conseguindo render uma obra cinematográfica para os jovens sem se furtar da vulnerabilidade inerente ao seu universo. Há também um humor que se equilibra bem com certa brutalidade, bem como a nostalgia em ver personagens em uma ambientação contemporânea sem o inconveniente de dispositivos eletrônicos assumindo algum protagonismo. Que seja a primeira de muitas adaptações da série Vaga-Lume.

Nenhum comentário:

Postar um comentário