sexta-feira, 6 de maio de 2016

HETEROFOBIA E A INVERSÃO DE PAPÉIS EM ‘LOVE IS ALL YOU NEED?’

Love-is-All-You-Need
Ashley é uma garota normal que vive em uma família normal. Ela possui duas mães, um irmãozinho, estuda em uma escola conceituada, participa do grupo de teatro e é simpatizante das obras e ideias de Shakespeare. Seu único problema: Ashley é heterossexual. Essa é a premissa de Love is All You Need?, um curta metragem estadunidense produzido em 2011 e dirigido por Kim Rocco Shields.
Como foi possível perceber, o filme traz uma inversão de valores. Na sociedade apresentada, é considerado imoral pelos diversos setores da sociedade (escola, igreja, etc) ser heterossexual. Todas as pessoas que fogem ao padrão social estabelecido, ou seja, quem gostar do sexo oposto (homens gostando de mulheres e vice-versa) acaba sendo vítima de preconceito e rejeição. Ashley, a protagonista, começa a sofrer bullying dos colegas por não conseguir mais esconder suas vontades. Sendo assim, a garota recebe ameaças pelo celular, colegas a agridem na escola, suas mães a tiram do teatro por julgar a atividade como “coisa de meninos”. O mundo de Ashley começa a desabar e a garota começa a conhecer o que o preconceito, a heterofobia, é capaz de fazer.
A obra segue os moldes do também excelente curta metragem Majorité Opprimée, um filme francês de 2010, dirigido por Eleonore Pourriat. A inversão aqui ocorre com relação ao machismo, convertido na obra em femismo. A questão é: como seria o mundo se as mulheres fossem superiores aos homens? E vemos diversas situações que as mulheres conhecem muito bem em nossa realidade machista misógina expressa, por exemplo, quando uma mulher é tratada como “puta” ou qualquer outro adjetivo ofensivo por andar de short na rua.
Majorité Opprimée e Love is All You Need? não são sobre o que muitas pessoas privilegiadas (homens,  brancos, héteros, cristãos…) acreditam estar sofrendo: um machismo às avessas, preconceito contra brancos ou ódio contra héteros. Essas obras pretendem mostrar a essas pessoas o que aqueles que não pertencem ao “padrão” sentem e nos mostram as consequências de sair da “regra”, do “normal”. Não, provavelmente você nunca apanhou por ser branco e hétero. Se você apanhou, o motivo com certeza foi outro. Um grupo de pessoas nunca chegou em você e disse: “Seu hétero maldito, vou acabar contigo pra ver se você vira homo!”. E é justamente isso que Love is All You Need? faz. Inverte os valores para ver se você consegue compreender um pouco do que acontece com os gays (e que essa inversão também serve para os negros, as mulheres, cadeirantes, cegos, surdos…). Ao final da obra, percebe-se, inclusive, que o caso narrado ali e transformado em ficção foi inspirado em situações reais.
Love is All You Need? é como você deveria se sentir caso a sociedade o desprezasse.Love is All You Need? é também como você deveria se sentir quando qualquer pessoa, conhecida ou não, fosse desprezada.
REVISADO POR JADY GOUVEIA

Rafael C. Oliveira é goiano e já foi astro do rock (no Guitar Hero), líder de uma grande civilização (no Age of Empires) e bem casado (no The Sims). Hoje, além de colaborador do literatortura, faz (pseudo)roteiros para as tiras do site pragmaticos.com.br. Ele diz que está escrevendo um livro de ficção científica, achando que vai conseguir novos amigos assim.

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