quarta-feira, 4 de maio de 2016

Resenha Crítica | Nise: O Coração da Loucura (2015)

Nise: O Coração da Loucura, de Roberto Berliner
Nise - O Coração da Loucura
Nascida em Maceió em 1905, Nise da Silveira exerceu uma contribuição exemplar para a história da psiquiatria no Brasil. Interessada pelas descobertas de Jung, Nise começou a praticar estratégias que buscavam a cura em esquizofrênicos então submetidos a métodos de recuperação hoje considerados selvagens, como a lobotomia.  Como diz Gloria Pires na pele da personagem em “Nise: O Coração da Loucura”, a sua arma de trabalho não era o picador de gelo, mas sim o pincel que daria formas a pinturas que espelham o inconsciente de seus “clientes” – assim é como chamava os seus pacientes.
Afeito a documentários, Roberto Berliner teve recentemente a sua primeira experiência na direção de um longa-metragem de ficção desaprovada por público e crítica: a comédia “Julio Sumiu”, produzida em 2014 e protagonizada por Lília Cabral. A sua segunda tentativa na ficção vem com um registro que condiz mais com o seu currículo, especialmente por algumas tomadas de decisões a partir do texto assinado por Chris Alcazar, Flávia Castro, Maria Camargo e Mauricio Lissovski e finalizado por ele mesmo em parceria com Leonardo Rocha e Patrícia Andrade.
A principal dela está em se desvincular das tradições da cinebiografia. A Nise da Silveira apresentada ao público (alguns deverão conhecê-la pela primeira vez por não ser uma figura pública discutida como o merecido) não é construída a partir de uma história com a estrutura de início, meio e fim. Sequer há flashbacks que a revelem na infância e juventude ou legendas explicativas sobre o que ela se tornou após os eventos narrados.
Se o recorte selecionado deixa o público no escuro quanto à privacidade de Nise (sua vida domiciliar com o marido é explorada brevemente), por outro a enriquece como a articuladora de um processo de recuperação de seus “clientes”, aproximando-nos de um universo a princípio complicado de se dialogar que vai ganhando formas a partir de telas que dão cores a um ambiente acinzentado e formas a traumas e anseios antes abstratos. Mais atento a observação do que a exploração de dados sobre Nise, Roberto Berliner faz um importante testamento de um acontecimento verídico em que a arte novamente se mostra como o meio de verbalização para a recuperação de nossa estabilidade.
.
+ Entrevista com Gloria Pires
+ Entrevista com Roberto Berliner

Nenhum comentário:

Postar um comentário