quarta-feira, 1 de junho de 2016

Resenha Crítica | Espaço Além: Marina Abramovic e o Brasil (2016)

by ALEX GONÇALVES
Embora tema de outros registros documentais, a artista sérvia Marina Abramovic só veio a receber com “Marina Abramovic: Artista Presente” um interesse mundial a partir de um projeto cinematográfico. Compartilhou com todos uma performance então testemunhada somente por aqueles que enfrentaram filas enormes no Museu de Arte Moderna de Nova York para vê-la sentada em uma cadeira, silenciosa e quase sem esboçar alguma reação, servindo como um espelho da alma de cada um que a contemplava.
“Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil” pode ser considerado informalmente uma continuidade de “Marina Abramovic: A Artista Está Presente”, pois a artista que aqui acompanharemos é aquela que experimenta uma longa estadia no Brasil logo após a sua participação no MoMA. A motivação de sua vinda é o que difere radicalmente um documentário do outro: Abramovic não apresenta uma nova performance e sim inaugura uma busca para curar o seu coração partido, resultado de um relacionamento desfeito com outro artista.
O antídoto, acredita, está em uma imersão em destinos brasileiros marcados pela preservação de rituais geralmente procurados por indivíduos que já se sujeitaram a todas as possibilidades para a resolução de uma enfermidade, seja ela física ou emocional. A sua primeira parada é em Abadiânia, onde o médium João de Deus recorre a procedimentos nada usuais para remover uma doença.
Algumas experiências em que Abramovic se submete são reconhecidas por nossa cultura, como as tradições de raizeiros e benzedeiras em Goiás. Outras trazem a artista se reconectando com elementos que já integraram as suas performances, como os cristais de Minas Gerais, os quais teve acesso pela primeira vez em 1989. Entretanto, há também procedimentos que podem soar inéditos inclusive à audiência brasileira, como a  sauna sagrada na Chapada Diamantina, onde Abramovic concentra todas as suas energias negativas em ovos que somente é capaz de despedaçar com uma força descomunal.
O cineasta Marco Del Fiol faz um registro esteticamente singular da peregrinação de Abramovic e não se furta de exibir flagras íntimos da artista de 69 anos. Mas é no poder em nos transformar em testemunhas estrangeiras de nosso próprio território que está o encanto de “Espaço Além”. Autora de uma arte preocupada em repensar o tempo, a purificação da alma e como um ambiente é apropriado por um corpo, Abramovic agora se volta para a beleza que há em uma diversidade de crenças que devem ser reconhecidas

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