segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Resenha Crítica | Assumindo a Direção (2014)

Você é um bom homem. Você é minha fé.
by ALEX GONÇALVES
Assumindo a Direção (Learning to Drive)
Mesmo com dois anos de atraso, a comédia dramática “Assumindo a Direção” chegou a Brasil em homevideo em um momento perfeito para se unir a um nicho de produções independentes que colocam em evidência alguns dilemas enfrentados por mulheres que atravessam a terceira idade com alguma amargura. Os resultados têm sido para lá de agradáveis, especialmente pelo prazer em ver grandes atrizes veteranas em uma rara posição de protagonistas.
Interpretada pela sempre notável Patricia Clarkson, Wendy é uma crítica literária de Manhattan que vê a sua estabilidade ruir com o desinteresse de seu marido Ted (Jake Weber) em prosseguir com um casamento que dura há anos. Sua única filha Tasha (Grace Gummer) está com a vida feita e não há nada de especial em seu espaçoso apartamento para aplacar a solidão que se manifesta.
De alguma maneira, Wendy acredita que o fato de não saber dirigir e o desejo de finalmente obter uma carta se tornarão uma saída terapêutica para colocar as coisas em perspectiva, logo solicitando os serviços de Darwan (Ben Kingsley), indiano que atua como instrutor durante o dia e como taxista à noite. Trata-se também de um personagem importante para o roteiro de Sarah Kernochan, tendo o seu drama de permanência em uma terra estranha e o casamento arranjado com Jasleen (Sarita Choudhury, maravilhosa) os contornos necessários para ir de encontro com o temperamento de Wendy.
Há anos em desenvolvimento, “Assumindo a Direção” só ganhou vida quando a sugestão de Patricia Clarkson e Ben Kingsley em convidar Isabel Coixet para o longa foi devidamente aceita. A presença da realizadora catalã, com quem a dupla de intérpretes trabalhou em “Fatal”, faz toda a diferença, pois Coixet é daquelas autoras que transformam em ouro o mais singelo dos gestos e interações.
Muito mais do que a condução de um veículo como uma metáfora óbvia para o modo como Wendy e Darwan dirigem as suas vidas, Coixet prefere priorizar o choque cultural entre duas pessoas que pertencem a realidades totalmente diferentes e o quanto isso as completam. É um relacionamento muito mais rico do que o amoroso, com um homem e uma mulher encontrando novas possibilidades a partir da sabedoria e respeito que compartilham entre si.

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